Já gastamos as palavras pela rua,
E o que nos ficou não chega
Para afastar o frio de quatro paredes.
Gastamos tudo menos o silêncio.
Gastamos os olhos com o sal das lágrimas,
Gastamos as mãos com força de as apertarmos,
Gastamos o relógio e as pedras das esquinas
Em esperas inúteis.·
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
Era como se todas as coisas fossem minhas:
Quanto mais te dava mais tinha para te dar.·
As vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
Porque ao teu lado
Todas as coisas eram possíveis.·
Mas isso era no tempo dos segredos,
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
Era no tempo em que os meus olhos,
Eram realmente peixes verdes.·
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
Uns olhos como todos os outros.·
Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
Já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
Tenho a certeza
De que todas as coisas estremeciam
Só de murmurar o teu nome
No silêncio do meu coração.·
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.·
Adeus.
"Eugénio de Andrade"
Já o publicaram em inúmeros blogs, mas não resisti em pô-lo também aqui.
PS: vão sempre existir fazes más....será justo para ti adiar...?
sábado, novembro 24, 2007
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1 comentário:
Obrigado por Blog intiresny
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