sexta-feira, dezembro 07, 2007

"Geração Tabuleiro"


Olho para os “meus” jovens diariamente, da faixa etária 12/20, e cada vez mais sinto da parte deles grandes gritos de socorro, grandes e graves sinais, pedindo ajuda indirectamente.

Eles por mais que queiram, não conseguem encontrar forças para voltar a caminhar, para voltar aos trilhos das chamadas vidas normais, onde se estuda, até ao 12º e depois se encontra um qualquer trabalho como administrativo ou algo parecido, ou se vai para a faculdade através de 1 “paitrucínio” ou pago por horas de 1 part-time que os desgasta, mais que os ajuda, para conseguirem pagar uma universidade e os vícios próprios de uma adolescência. Também é certo que essas primeiras experiências laborais são muitas das vezes as primeiras noções de responsabilidades da vida adulta.

Os “meus” jovens, aqueles com que aprendi a lidar nos últimos anos, não são esses jovens! São jovens que fecharam num passado recente, todas as portas que poderiam existir, outros nunca as puderam fechar porque nunca se abriram, graças a motivos sociais e incompreensões institucionais.

Agora um pouco mais velhos e muito mais estrangulados, pouco lhes resta do jogo de cintura que outrora tiveram, procuram voltar atrás e abrir as portas que antes fecharam, a sociedade responde-lhes quase em uníssono, “é tarde”, porque também ela já não consegue dar resposta a tanto grito. Eles anicham-se, procuram colo, junto de profissionais sociais, que profissionalmente lhes damos afecto, lhes damos confiança, tentando compensar as frustrações, das portas que já não se abrem mais. Mas até nós nos cansamos, até nós, não temos força, para dar força, e desacreditar torna-se fácil e a não expectativa uma ferramenta laboral.

A “Geração Tabuleiro” como foi apelidada pelo Drº Daniel Sampaio (psiquiatra e escritor), grita por ajuda, como nunca nenhuma geração gritou, mas enquanto a “Geração Rasca” virou “Á Rasca” e “Desenrasca”, em grande parte devido á escola de rua que teve, não vejo nos “meus” meninos essa capacidade de “improvisar” um futuro melhor (há excepções).
Infelizmente o conjunto de ofertas actuais tornou-os também mais moles, sair da frente da TV ,do PC ou da Playstation é desconfortável e cansa, e não dá para levar o “tabuleiro” (leia-se conforto, comodidade, segurança) para a rua, onde há ainda todo um mundo para se descobrir com os seus pares, onde há todo um significado de palavras para experimentar.

Daqui a 10/15 anos terei a resposta ás minhas inquietações geracionais. Que futuro terá o “Tabuleiro"
PS: Pode parecer confuso o texto, é mais fácil viver do que escrever!
"Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha."(Confúcio)
"Ensinar não é uma função vital, porque não tem o fim em si mesma; a função vital é aprender."(Aristóteles)

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