quinta-feira, maio 03, 2007

"Até amanhã se deus quiser"

Os bancos do jardim,
que já conhecem de cor,
todos os dias,
a todas aquelas horas marcadas.
As cartas e o dominó,
dominam a conversa,
mas enquanto os jogos decorrem o silêncio é religião.
Para eles o tempo,
já não corre, pelo contrário,
o tempo tornou-se o seu pior inimigo,
queixam-se agora do excesso de tempo,
quando outrora, queixavam-se da falta dele.
Passaram a conhecer os horários de quem por ali passa diariamente,
das lojas, dos miúdos da escola,
dos que tal como eles em tempos passados,
se queixam da falta de tempo,
mas sempre atentos ao que se passa na mesa que fazem sua igreja,
e ao jogo que fizeram sua religião.
À muito que se resignam,
os netos já estão crescidos,
e já não acham piada,
ir brincar com os avós,
no escorrega, no carrossel ou no baloiço.
A noite começa a cair,
e os olhos fracos já não permitem ver bem o jogo,
é hora do grupo partir,
com um “até amanhã se deus quiser”,
sim “se deus quiser”,
sabem que um deles
pode um dia não chegar no dia seguinte,
á hora ritualmente marcada.